Divisões da ORC pretendem incentivar a competitividade das equipes
A primeira etapa da Copa Mitsubishi 2021 está sendo pioneira em implantar a segmentação da Classe ORC em duas divisões, chamadas de ORC Gold e ORC Silver.
Na prática, estas divisões têm o objetivo de incentivar as equipes, que engloba veleiros e tripulações bastante diversas.
“O objetivo da ORC é unificar todas as regras de oceano no Brasil. É a regra mais usada no mundo todo, tem complexos modelos de medição que leva em conta a variação da hidrodinâmica e aerodinâmica dos veleiros, é menos suscetível a variações regionais e a que mais tem certificados emitidos pelo mundo. Atualmente, são 13.000 em vigor”, comenta Mario Martinez, Comodoro da ABVO.
“Por essas razões entendemos ser uma regra adequada para agrupar as equipes. O objetivo da ABVO não é desestimular outras classes, como a RGS. Ao contrário, a ABVO apoia essas duas classes de rating e as demais de monotipo. Entendemos que a RGS é uma classe importantíssima. É o primeiro passo para quem quer evoluir para uma classe com regras, mas sim estimular aqueles que querem dar um passo a mais a entrar em uma regra unificada, amplamente validada”, completa.
Para o diretor técnico da Copa Mitsubishi e também presidente da Federação de Vela do Estado de São Paulo, Carlos Eduardo “Cuca” Sodré, a divisão da ORC em Gold e Silver é importante para motivar equipes, que se alocam em divisões mais adequadas às suas características:
“A ORC abriga veleiros muito distintos, com tamanhos, equipamentos e mesmo equipes muito diferentes entre si. Isso faz com que os resultados acabem sendo previsíveis, pois veleiros maiores, com mais tecnologia ou mesmo com equipes mais treinadas, via de regra, vão liderar as competições.
Na divisão, a tendência é trazer um equilíbrio maior, pois temos condições de agrupar equipes com características próximas e, ao menos em teoria, proporcionar regatas mais equilibradas”.
Gereba Carvalho, que comandou o veleiro Zeus, em sua primeira regata na ORC também se mostrou entusiasmado com a possibilidade da nova divisão:
“Comandei o Zeus na ausência de nosso capitão, Paulo Moura, e mesmo com o barco recém-chegado de uma manutenção, e também com uma tripulação não tão experiente, acho que foi bastante satisfatória esta estreia na Silver.
Já estava mesmo na hora da gente mudar de classe e mesmo com a dificuldade dos ventos fortes deu para navegarmos bem. Acho que criar essas condições de navegarmos em uma categoria um pouco mais competitiva, com as divisões, foi uma decisão acertada por parte da organização”.
Paulo Moura, embora não tenha participado das regatas iniciais concorda com seu skipper:
“Consultamos o time e achamos adequado fazer esta mudança da RGS para a Silver. É uma boa porta de entrada em uma categoria mais técnica e vamos disputar na divisão ao menos até o final desta temporada”.
Maurício Pavão, comandante do veleiro Aventador comenta que uma das vantagens da adoção deste sistema é que os resultados são alocados nas divisões mas a largada é única para todos os ORC:
“Acho positivo colocar mais barcos na largada. Isso ajuda a medir melhor o seu desempenho. A gente sabe que o resultado final depende de nossas escolhas, das manobras, das estratégias, etc. É claro que dá um ânimo a mais aparecer com chance de vitória, que na Gold seria muito difícil”, completa.
O caso do Aventador ajuda a exemplificar esta inovação. Correndo a mesma regata que todos os barcos da ORC, supondo-se não existir a divisão, a equipe teria terminado este primeiro final de semana na 8ª colocação geral.
Na divisão, entretanto, o Aventador se coloca como vice-líder da ORC Silver.
“Temos uma tripulação de amigos. Ninguém profissional e ninguém contratado. O resultado positivo veio do esforço mesmo em levar a sério a regata com muita cobrança a bordo. Precisamos colocar mais barcos na Silver”, finaliza.
Entendendo a Mudança
Até a implantação desta divisão, iniciada na Copa Mitsubishi, os veleiros da classe ORC vinham competindo em uma classificação geral. Isso causava algumas distorções, como já dito, em razão de existirem barcos com características muito diferentes entre si.
Agrupando as equipes em divisões, a organização procurou equilibrar estas diferenças, trazendo um novo vigor à competição, como se vê no resultado final da ORC Silver, divisão que agrupou barcos um pouco menores e eventualmente de performance menor do que os ORC Gold.
“Acreditamos que uma fórmula que traz mais equilíbrio e, certamente em competições maiores, com mais barcos diferentes entre si, ainda poderemos criar subdivisões. Tudo para incentivar a participação em uma regra unificada, mas na qual todos tenham chances de boas colocações”, cita “Cuca” Sodré.
“O objetivo final é que possamos unir todos em uma única regata, proporcionando uma experiência de velejar em uma flotilha maior em que todos possam competir entre si, na raia, sem ter “n” largadas para “n” classes, ou seja, em uma regata única, que tem seus resultados apurados e agrupados de forma mais coerente”, finaliza o Comodoro da ABVO, Mario Martinez.
Mostrando que a vela de fato pode abrigar todos, o comandante Clauberto Andrade, do veleiro-escola URCA, da BL3 Escola de Iatismo, comenta um fator interessante na formação de novos velejadores:
“Para nós, a preocupação maior quando entramos em regata é a atenção à formação dos alunos. Esse é sempre o meu foco. Agora acho muito válido que, no nosso caso, de um veleiro de formação de novos velejadores, a gente possa ter a opção de nos inscrever ora na RGS, ora na ORC. Acho importante mostrar estas diferenças aos alunos.
Pretendemos correr toda a Copa Mitsubishi na ORC Silver. É uma oportunidade de mostrar uma regra um pouco mais detalhada, um pouco mais desafiadora, como aliás, foi este primeiro final de semana da Copa Mitsubishi, quando tínhamos a bordo alunos que nunca tinham participado de uma regata. Cada regata é um desafio.”, completa Clauberto.
Equilíbrio marca a retomada das regatas
A Copa Mitsubishi recomeça no próximo final de semana e o equilíbrio entre as equipes da ORC promete ser um ingrediente a incrementar as disputas.
Na Silver, por exemplo, o Zeus, que lidera, tem 3 pontos acumulados. O mesmo número do Aventador. Com 8, em terceiro o BL3 Urca. Ou seja, dependendo da quantidade de regatas no próximo final de semana, tudo pode mudar.
Situação parecida na Gold em que várias equipes tem chances de “levar” a etapa. O Xamã, de Sergio Klepacz,é o atual líder, com 2 pontos. O Rudá, de Mario Martinez, vem em segundo, com 5. Embolados nas colocações seguintes vem o Zorro, de Gonçalo Sá (7 pontos), o Lucky V, de Luiz Villares, Asbar IV, de Jonas Penteado (ambos com 8 pontos) e o Inaê, de Bayard Umbuzeiro Neto (9 pontos).